Obra / Arquitetura

URBANIZAÇÃO DO PARQUE TIETÊ
Ano: 1986
Local: São Paulo
País: Brasil
Descrição:

 

"...O problema de urbanização do Tietê é claro, claríssimo e, na procura da área desejada, suas margens surgem, naturalmente, como o local preferido. Como tantas vezes ocorre, um obstáculo inesperado apareceu. As margens do Tietê estão emparedadas por duas grandes avenidas. Duas avenidas que separam da cidade como coisa proibida.
Para São Paulo, o Tietê não existe. Erro tão primário que nos espanta não ter sido até hoje corrigido.
E a idéia de recuperar uma das suas margens cresceu em nossa decisão, surgindo a margem sul, de urbanização rarefeita, como a mais adequada. Solução tão correta, tão exata como opção urbanística que a sentimos com a simplicidade de um ovo de Colombo.
Recuperar essa margem, numa profundidade variável entre 300 e 1000 metros, é a nosso ver, a solução a seguir.
A cirurgia urbanística necessária, a única que daria a São Paulo o pulmão verde que lhe falta. Um parque imenso com locais de esporte e lazer, clubes, restaurantes, habitações, escritórios, um Centro Cultural e o Centro Cívico. E, a reconciliação com o seu rio, num ambiente urbanizado e acolhedor.
É claro que se trata de um empreendimento de vulto que aos mais tímidos nunca ocorreria. Uma solução que obrigaria a demolições, desapropriações, etc. Problemas que julgamos menores diante da profunda e irrecusável transformação urbanística que vai constituir para esta cidade tão hermética, compacta e poluída. 
(...) E aí está o nosso plano: dez milhões de metros quadrados de áreas verdes, compreendendo parques e jardins, zonas de esporte e recreio, habitações, escritórios, centro cívico e cultural. Todos cercados de vegetação, inclusive o Centro Cívico que, construído nos bairros de recuperação, nunca teria o ambiente e os espaços que obra de tal vulto requer. Seriam dez milhões de metros quadrados de área verde que constituiriam o local preferido da cidade, os parques e jardins com os quais jovens e velhos de São Paulo sempre sonharam.
Por outro lado, sem perder a idéia fundamental de um grande parque, o projeto prevê um volume tal de construções que, acreditamos, poderá facilitar o problema econômico, viabilizando sua realização.
Trata-se de um projeto tão importante que, desejosos de nele nos concentrarmos exclusivamente, pedimos dispensa da colaboração oferecida para os bairros em recuperação nos quais a urbanização se limitará a soluções de compromisso, agravando problemas de circulação, infra-estrutura, etc., sem a unidade e a grandeza que a urbanização do Tietê oferece.
Solução que criaria nesta cidade, como a Dèfense em Paris, uma nova etapa na história do seu urbanismo, da sua arquitetura e da sua cultura.
Ao Prefeito Jânio Quadros caberá a honra de a ter lembrado e promovido, nessa época em que os grandes empreendimentos se perdem na timidez e na falta de grandeza dos governantes." *1
 
 
"Quando Jânio Quadros me convidou para a urbanização do Tietê, senti que era a grande oportunidade para dar a São Paulo uma nova faixa de lazer.
O rio tinha sido emparedado por duas avenidas, e afastar uma delas criando o ambiente de praia que falta àquela cidade, seria, a meu ver, uma contribuição extraordinária.
Como gostaria de ter realizado esse projeto! E ficava a imaginar o povo de São Paulo a passear pela praia do Tietê, como em Copacabana, as mulheres bonitas a circular com seus biquínis, as crianças a correr em algazarra, e o rio limpo e refrescante.
Por que essa burrice fantástica que tudo isso não permitiu?
É claro que o projeto era ambicioso, que exigia desapropriações, e só uma pessoa dinâmica como Jânio Quadros, que o assumiu, o poderia concretizar." *2
 
 
 
*1 PARQUE do Tietê: plano de reurbanização da margem do Rio Tietê. São Paulo: Almed, 1986. não paginado.[p.5-13]
 
*2 NIEMEYER, Oscar. As Curvas do Tempo. Memórias. Rio de Janeiro: Revan, 1998. 294p. p. 213: